Afinal quantos sentidos temos? Cinco, seis, ou sete?

Conta-se que uma vez, um casal de Vizela tinha uma filha pequenina, chamada Maria, que era o regalo da família. A Maria era o orgulho dos pais, dos avós, dos padrinhos, dos tios, dos vizinhos, de toda a gente. Os pais procuravam dar-lhe a melhor educação do mundo. Eram zelosos com os estudos na escola. Verificavam que nada lhe faltasse. Acompanhavam-na nos principais momentos da sua vida. Compensavam-na por todos os méritos que alcançava. Enfim, aquela criança era a princesa daquela gente. Certo dia, a mãe da Maria chega a casa cansada de um dia de trabalho e vê que ela tinha duas maçãs na mão.

Confiante na sua boa educação, a mãe diz-lhe: “Minha filha, não me queres dar uma das tuas maçãs?” Foi então que a Maria ao pegar nas maçãs, olhou-as com atenção observando a sua cor viva, palpou-as para sentir a sua textura e perceber qual seria a mais lisa, cheirou-as, ergueu uma maçã e a outra para avaliar qual a mais pesada, e eis que deu uma trinca na maçã que tinha na mão direita, depois deu uma trinca na maçã que tinha na mão esquerda, e, em seguida, deu à mãe a maçã que tinha na mão direita. A mãe, furiosa com aquele gesto de má-educação, porque nunca aquela filha fizera tal coisa, deu um puxão de orelhas à Maria, pô-la de castigo e começou aos gritos com ela. Assustada, depois da mãe parar de gritar, a Maria disse à mãe, chorando: “Desculpa, mãe. Eu só trinquei as duas maçãs porque queria dar-te a maçã que era mais doce!”

Esta história é o ponto de partida para darmos resposta à pergunta que se coloca neste artigo: quantos sentidos temos afinal?

As crianças, de acordo com a pirâmide do desenvolvimento, ainda antes de desenvolverem a parte motora, a parte da linguagem, a parte emocional, ou até a parte da compreensão social e autonomia, a primeira coisa que desenvolvem são os sentidos. Sabe-se, atualmente, que os mesmos se desenvolvem ainda dentro do meio intrauterino, por exemplo, quando o bebé ouve a voz da mãe, quando a sua pele sente o toque da placenta, quando o bebé sente o movimento da mãe a caminhar.

Efetivamente, os sentidos começam a funcionar no cérebro do bebé de uma forma inconsciente e automática, sendo que à medida que se desenvolvem e a criança cresce, começam a influenciar o nosso dia-a-dia, a nossa forma de interpretar o ambiente que nos rodeia, a nossa capacidade de nos regularmos e inclusive a nossa tomada de decisões.

Ora, há várias reflexões que podemos tirar desta história da Maria, mas aquilo que vamos compreender agora é a forma como a Maria tomou a decisão de escolher a melhor maçã para a sua mãe. De facto, para tomar a decisão em relação à escolha da maçã, a Maria teve necessidade de usar a visão para observar a cor viva das maçãs, de usar o sentido do toque, de as cheirar através do olfato, de as erguer para perceber o peso das maçãs mas, no final, teve de recorrer ao paladar para escolher a maçã mais doce.

Então, mas se nós temos apenas 5 sentidos, qual o sentido que ajudou a Maria a sentir o peso das maçãs?

Na verdade, de acordo com as neurociências, não existem apenas cinco sentidos, mas sete! Aos comummente conhecidos, juntam-se o vestibular – o “sentido do movimento” – e o propriocetivo – o “sentido da consciência corporal”.

Tomemos como exemplo a seguinte situação: imaginemos que estamos num elevador, entra alguém, carrega no botão. Como é que, com o nosso corpo estático, sem qualquer perceção do exterior, conseguimos aperceber-nos de que o elevador está a subir ou a descer? A resposta está num outro sentido, o vestibular, que é o sentido que deteta o movimento. Este sentido, por sua vez, tem os seus “radares” do movimento localizados no ouvido interno. É graças a este sentido também que, por exemplo, quando estamos dentro do carro, mesmo estáticos, nos apercebemos da sua velocidade (se vai mais rápido ou mais devagar).

Mas há ainda um outro sentido, a perfazer os sete, o propriocetivo. Este é o sentido que nos permite localizar exatamente onde estão as partes do nosso corpo e utilizar a força necessária para as movimentar, sem que tenhamos a necessidade de usar a visão, de uma forma automática. Se eu colocar uma mão atrás das costas e a abrir ou mexer os dedos, como é que eu sei que de facto o estou a fazer se eu não a consigo ver? De facto, isto acontece porque nós temos recetores sensoriais nos músculos e nas articulações, isto é, células que detetam a posição em que o corpo se encontra, que enviam essa informação ao cérebro, permitindo que o mesmo nos diga como nos mexermos e que força usar. Ou seja, o sentido propriocetivo permite-nos então, por exemplo, sentir o peso dos objetos, assim como, saber de forma automática que força usar quando pegamos num garrafão de água, quando pegamos num lápis para escrever ou quando fazemos festinhas a um gato.

Na verdade, os sete sentidos desempenham diferentes funções no cérebro, e quando percebemos que a criança não está a desempenhá-las de forma automática e integrada, podemos estar perante um problema de Integração Sensorial.

É por esta razão que nasce a Clínica do Edi, com uma valência de Terapia Ocupacional seguindo a abordagem de Integração Sensorial, na missão de garantir que toda e qualquer criança seja capaz de discernir a melhor maçã, usando os sete sentidos.

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